pequeno manual do ofício de representar pequenas vastidões

                                                                         



Pequeno manual do ofício de descrever pequenas vastidões sem o uso de palavras
Pode ser.
Pequeno manual do ofício de representar pequenas vastidões.

(e algumas utopias sobre paisagens)

  1. Ter uma imensa saudade sem objeto lá muito definível.
  2. Dirigir-se às possibilidades de descrição dos fenômenos espaciais, virando-lhes as costas.
  3. Ficar confuso numa mesa de bar com Francis Ponge.
  4. Especificar o vago comum.
  5. Ser ingênuo o suficiente a forçar a impossibilidade de muitas de nossas correspondências espaciais: olhar que pode atravessar o que é mais opaco, olhar que pode ir ainda mais longe assim que somos obrigados a estarmos muito perto.
  6. Apontar e não dizer, poetizar para abolir a possibilidade da contradição.
  7. O distanciamento do tema e do objeto é o exercício e seu pretexto.
  8. Colecionar cartões postais artesanais, catálogos difusos (esparramados) cheios de regiões e atmosferas, com preguiça de seus sons e odores.
  9. Transformar todas as distâncias em lugares.
  10. Enclausurar todos os fenômenos em dois modelos: o verde para as formas irregulares e o azul para todas as outras.
  11. Dar luz a estruturas ortogonais e organizações esquemáticas enquanto as nega em nome da intuição universal.
  12. Elucidações inexatas.
  13. Apregoar o não-pitoresco ao pitoresco e vice e versa.
  14. Mostrar que o lugar tinha exatamente essa aparência demonstrando que tinha mais ou menos essa aparência.
  15. Desencanar dos binóculos e dos telescópios.
  16. Estar consciente que tudo é representação, e que toda representação é uma exteriorização do que queremos ter acesso.
  17. E mesmo assim insistir em homenagear imagens que não comportam sua própria acessibilidade, representar até onde não chegaríamos.
  18. Infidelidade à memória.
  19. Buscar ver melhor se colocando em frente ao seu próprio campo de visão.
  20. Repetir exaustivamente a mesma equação errada afim que de repente ela pareça exata.
  21. Nunca saber, em todas essas situações e regiões, se é possível fazer isto ou aquilo.
  22. Amor involuntário a todas práticas anteriores.


                    Publicado no catalogo da exposição Vistas a Perder de Vista, curadoria de Claudio Cretti.





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